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ÚLTIMO BOM DIA



“The fault in our stars”, é um filme adaptado de um romance homónimo escrito por John Green, que aborda a história de uma jovem que luta diariamente contra um cancro. É uma história de resiliência, mas também uma história de amor, e acima de qualquer outro assunto trata de gratidão e esperança. Não é fácil explicar como é que pode no meio de uma realidade aparentemente condenada surgir uma Bela história de amor, mas se pensarmos com mais pormenor a própria vida é um milagre diário mesmo para aqueles que não enfrentam desafios constantes para ultrapassar as suas dificuldades.


A beleza da vida tem a ver com a perenidade, aquilo que nos distingue e nos faz especiais em relação aos seres eternos, se é que eles existem, é que enquanto os anjos ou os imortais, não têm os seus dias contados, os seres humanos debatem-se diariamente com a sua própria sobrevivência, o nosso tempo está sempre a acabar. Esta perceção que o tempo é escasso e nos parece permanentemente fugir, fica bastante mais clara quando nos batemos com doenças terminais como o cancro, quem vive com essa condição ou com qualquer condição que limita a duração da vida, com doenças letais incapacitantes e limitantes crónicas, sabe perfeitamente que simples facto de estar vivo é obrigação de estar grato.


Gratidão é a única verdade que nos mantém e todos nós que lutamos diariamente contra a ameaça de um fim imprevisível e imediato ainda mais repentino, que o de qualquer outro mortal. Essa é precisamente por essa razão por que queremos deixar neste mundo uma marca e uma presença, mesmo que o seu significado apenas seja recordado por uma pessoa. A história de Hazel e Augustus, ou simplesmente Gus, é história de dois jovens que se recusam a render-se ao esquecimento, é também uma história de coragem, de persistência de resistência à dor e ao sofrimento, de Esperança e acima de tudo de superação constante perante uma vida totalmente fora do seu controle.


Como se vive com uma doença terminal como se vive com uma doença crónica consome constantemente a Esperança a Juventude e a sanidade? E como se vive enquanto jovens do século 21 esta mesma realidade, sabendo que que o futuro é totalmente incerto?





As gerações viveram depois dos anos 60 do século passado conhecidas por MILLENNIALS, ou as gerações z e y, só na verdade os jovens adultos do século 21 que olham para o mundo a desaparecer e que ao mesmo tempo se recriam constantemente e aprendem a sobreviver. No início do século falava-se muito acerca dos índigos e cristais, da necessidade de mudar o mundo e transformar a sociedade, no entanto e por vezes o desafio é bem mais catastrófico. Muitas vezes enfrentamos a verdadeira catástrofe não sabermos quando é que irá ser o nosso último dia bom, não sabemos concretamente o que nos irá acontecer no momento seguinte porque não sabemos quando é que a doença nos irá roubar mais um momento de paz e de sanidade vivemos entre épocas, vivemos entre momentos que podem ser magníficos, mas também podem ser os nossos últimos.


Durante gerações o tempo era calculado de uma forma métrica tudo estava previsto, Hoje cada vez mais vivemos numa total inconstância que para muitos poderá ser considerada magnífica e desafiante mas para quem vive a incerteza constante a única coisa que se consegue sentir é uma profunda injustiça, uma dor profunda, a dor de ter um futuro interrompido pode eventualmente nem sequer ter direita esse futuro, mas mesmo num cenário destes onde parece que fomos roubados em que nos foi retirada a felicidade somos capazes dar graças por aquilo que temos perceber que cada instante é único e magnífico e que devemos olhar com humor para aquilo que são os momentos de dureza que a vida nos reserva de forma permanente.


Este filme diz-me muito, para não dizer que me diz tudo, o facto de também me debater com uma doença ou melhor dizendo com esta doença, deixa cada vez mais claro que o tempo urge, que é necessário entregar porque se quero servir ou levar a cabo a execução da minha missão, terei necessariamente que me entregar no tempo que me resta e nesse sentido as perguntas que é que Hazel fazia Van Hoyte, escritor do seu romance preferido fazem todo o sentido, urge saber como terminar a história, urge entender o porquê o significado a razão de estar aqui de dar testemunho.





E talvez a resposta esteja mesmo nas estrelas, talvez não seja culpa talvez seja gratidão aquilo que precisamos de manter, só deixando partir as culpas e os pesos verdadeiramente nos encontramos de novo em nós. Gus fez aquilo que eu sabia fazer melhor ser forte, ser protetor, ser carinhoso, ser amigo, porque quem ensina muitas vezes não tem coragem de fazer, e como ele respondeu a escritor Van Hoyte, ele poderia não ser bom com as palavras, mas sabia ser um bom e decente ser humano. Hazel e Gus, arriscam viver, porque a vida é curta, porque não há tempo para perder, porque vale a pena estar cá e ser grato por cada dia.


Essa é a magia fundamental, e quando vivemos numa sociedade cada vez mais obcecada pelos holofotes pelos “likes” com medo horrível da solidão esquecemos que muitas pessoas nem sequer tem um espaço para poder Respirar, a saúde é sem dúvida o nosso bem mais precioso e só nos demos conta da importância que ela tem não me meto em que já não a temos. A maioria das pessoas vive a reclamar dos ordenados o das condições de vida sem dúvida alguma são terríveis nos dias que correm sobretudo em países em maiores dificuldades, mas esquecem frequentemente que quem não tem saúde na verdade não pode fruir aquilo que tem. Na incapacidade de fruirmos e numa sociedade de consumo vivemos nas palavras de Hazel um 10 em 10 de dor, ou seja, não temos capacidade para aguentar mais dor, ser corajoso e ser capaz de aguentar a dor de 9 em 10 na Esperança de ter o seu momento em que finalmente possa aguentar o 10 em 10. Só quem se debate diariamente com as suas limitações e luta permanentemente para superar as suas barreiras entre dias bons e dias maus, entre dias em que consegue realizar os seus objetivos e dizem que precisa de parar verdadeiramente consegue entender estas palavras.





Gratidão é a única coisa que deveremos ter quando as coisas correm bem, quando conseguimos verdadeiramente sentirmos felizes porque momentaneamente conseguimos estar naquele que é último dia bom, pois não sabemos quando será voltaremos a estar naquele momento, de paz em comunhão com Deus e em gratidão com o universo. Confesso que este filme já me tinha passado algumas vezes em zapping, mas nunca tinha tido o tempo para ouvir integralmente e para meditar no que ele nos quer transmitir, confesso que não li o livro e que fiquei tentado a adquirir e ter experiência de ler que é sempre diferente em tempo e em preenchimento que um filme. Diria, no entanto, acerca do filme que exprime muito bem o estado da alma e forma como se vive quando se está à espera de que o pior possa acontecer a qualquer momento.


A sociedade dos dias de hoje vive obcecada com a imagem com a necessidade de não estar só, como diria Byung Chu Lee, vivemos numa sociedade da solidão, mas esse não é o pior dos males, o pior dos males é necessidade constante de sermos importantes, quando na verdade, aquilo que nos deveria preocupar e a necessidade é que devíamos atender era de sermos felizes gratos realizados e acima de tudo contentes connosco mesmos, e com as circunstâncias e como a saúde que em momentos nos sorri. Só quando as circunstâncias são absolutamente insustentáveis e a morte ronda a cada instante, a nossa mente muda e começamos a viver cada dia como se fosse o último, a partir do momento em que percebemos que a nossa condição é como a da borboleta totalmente perene e sem qualquer esperança de salvação ou de continuidade percebemos que temos de nos entregar, aceitamos a nossa vulnerabilidade, e que este momento não é o momento de desperdiçar momentos e começamos a fazer com que valha a pena. É na vulnerabilidade que tudo fica mais claro que ganhamos a força para proteger, porque não serão dadas segundas chances e porque queremos viver e ser solares na vida de alguém. Não interessa para nada quanto mais tempo vamos viver, sabendo que não é justo mas que é o nosso próprio destino aquilo que nos foi reservado, e quando começamos a aceitar começamos a ficar gratos por cada momento começamos a dar mais valor àquilo que temos e a preservar esses momentos essas experiências, a necessidade de querermos ter cada vez mais experiências positivas é absolutamente natural porque ela é o que permite fazer com que cada dia seja suportável e com que a existência faça sentido.



Gus não sobrevive contra todas as expectativas já que se pensava que era efetivamente a Hazel poderia falecer, a verdade é que a vida é totalmente imprevisível, muitas vezes acreditamos que podemos durar Para Sempre porque essa é a única maneira de suportar a inevitabilidade da morte. De certa forma a maneira por vezes arrogante com que Gus, olhava para as coisas era também um desafio, mas era força era capacidade de enfrentar o seu destino e de trazer Esperança a si e a Hazel, pois o importante aqui neste mundo quando não temos à nossa frente um futuro certo é sermos gratos mantermos a Esperança e ter um certo sentido de humor e para isso é preciso pensar grande é preciso superar-nos permanentemente conseguir ter as experiências no tempo que ainda nos resta e que nos é dado porque isso é sermos humanos. Mas mais importante este filme é uma poderosa história de amor, e para aqueles que frequentam cursos de relacionamentos como foi o meu caso quando frequentei HDP, da professora Larissa não deixa de ser irónico que quem está a procurar sobreviver e atingir os seus objetivos se manter vivo ser grato e feliz pela sua existência acaba por se tornar terrivelmente sedutor.


Quem nem sequer pensar nisso porque o seu único objetivo é manter-se vivo e tornar a sua vida uma experiência com significado acaba por guiado por algo maior fazer as escolhas que precisa para que de algum modo não deixe que a sua experiência neste mundo e nesta sua passagem seja insignificante. Nessa busca personificada no filme por Gus, que é a busca de quem está aqui para dar significado a esta experiência é absolutamente necessário servir é absolutamente necessário deixar algo tocar alguém e mais do que uma pessoa o mundo, como o próprio reconhecia não era fácil com as suas limitações físicas e com o seu escasso tempo de vida fazia grande diferença mas para ele a descoberta de Hazel, foi absolutamente essencial para perseguir o seu projeto para ser fiel a si mesmo para ter oportunidade ia presentear com a viagem da vida dela ao encontro do seu próprio destino.


A viagem que lhes permitiu viver em sua história de amor, e conseguirem através dela entender o mistério essencial da vida. Não vivemos neste mundo tempo suficiente para podermos fazer algo muito significativo, e mesmo aqueles que fazem algo significativo os milénios apagarão tudo aquilo que eles fizeram, por isso o que verdadeiramente conta é a diferença que podemos fazer na vida de alguém muito concreto da nossa família da pessoa que amamos quem está junto a nós e queremos muito.





Quando passo os olhos pelas aulas dos cursos de crescimento pessoal e quando estudo aquilo que deve ser feito, percebo também que muitas vezes quem ensina esses mesmos cursos debate ainda Hoje com dores existenciais não ter sido capaz não ter tido a coragem a capacidade de viver é dor a 10 ponto 10, porque Hazel, tinha razão, quando dizia que o 10 ponto 10, aparece quando menos esperamos, e que quando vem, esta vem para nos ensinar algo mas também para nos fazer perceber que através da gratidão por tudo aquilo que foi e pelas marcas positivas que deixamos nos outros, que valeu a pena viver. Não encontro melhor definição de amor do que a que Hazel dá, quando discursa para Gus, e que não teve coragem de pronunciar no dia da sua morte. Nós não sabemos o tamanho das nossas infinitudes, mas o que conta mesmo e fazermos a diferença na vida uns dos outros, daqueles que amamos profundamente, daqueles que estão sempre ao nosso lado que nos dão segurança e que nos garantem que somos amados. Se para Hazel, a segurança a confiança a estabilidade de Gus, era a sua âncora, para Gus, a história a coragem e acima de tudo a força com que Hazel respondia pragmaticamente a todos os desafios que a vida lhe colocava ou a forma como ria da morte juntamente com ele, fazia com que o simples facto de estarem juntos fosse suficiente para não se importar mais com o impacto que poderia vir a ter no mundo.


O amor não se diz, sente-se, o que interessa verdadeiramente nesta existência é sentir, sentir tudo de uma vez e partilhar esse sentimento. É preciso suportar a dor, porque ela faz parte da vida, é impossível viver sem dor, mas é nessa dor que reside a coragem de continuar e de nos superarmos, e quando estamos todos os dias com as nossas dificuldades, com os nossos medos, mas somos capazes de os pôr de parte para ouvir o outro, para escutar e para nos maravilharmos, com aquilo que ele nos traz ao nosso mundo é nesse momento que mostramos que estamos vivos e que não vamos permitir que a morte venha mais cedo. E lutando diariamente contra a morte é lutando diariamente contra as limitações que nos superamos e é nesse momento que nos sentimos gratos por estarmos aqui e partilhar a vida com aqueles que amamos.


Quando fazemos isso, a realidade muda, fica bem mais claro que o propósito existe e que aquilo que fazemos diariamente importa não só para nós como para alguém que também está connosco nos nossos desafios. O ato de nos apaixonarmos, o ato de amarmos são atos naturais. O contexto vale muito pouco, as condições podem sempre vir a ser superadas, a atitude nasce tem necessidade te conhecer de aprofundar de continuar. Quando existe uma mesma linguagem, quando o outro nos dá permanente rebate é tudo o que dizemos, quando que nós dizemos interessa ao outro, e quando o que o outro nos diz, nos impacta não precisamos aprender que as conversas têm três níveis, não precisamos saber o que dizer porque intuitivamente acabaremos por saber exatamente aquilo que é certo de dizer. Querer transformar o milagre da existência em algo percetível através de códigos racionais é talvez a maior Loucura possamos fazer.



Ainda assim não há loucura maior que deixar de sentir e tentar reagir racional emocional física ao espiritualmente às palpitações da nossa natureza humana. Gus simplesmente falava a mesma língua, tinha a mesma condição que Hazel, por isso tudo fazia sentido para os dois, por isso abraçavam mesmo desafio e por isso ficaram juntos até ao fim na sua própria condição na sua própria necessidade, fazer sentido perante o mundo na superação quer a sua marca de existência. Ser humano, ser frágil é o maior privilégio pelo qual devemos estar gratos. Só na fragilidade encontramos força para nos superarmos, só na fragilidade encontramos a nossa própria força e entregamos ao outro em partilha em compaixão em amor.

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